O que é racismo estrutural?

Racismo estrutural é o termo utilizado para mostrar que o racismo está enraizado em nossa sociedade, ou seja, no direito, na economia, na ideologia, na política. Ele se mostra a partir de práticas, hábitos e falas cotidianas, tanto de forma consciente, como inconsciente. Isso significa que, se o país onde vivemos foi construído com base em ideais racistas, o racismo deixa de se expressar como uma anormalidade e se torna um componente significativo que escancara como as relações sociais foram historicamente construídas em nosso país, logo se diz respeito ao funcionamento da sociedade.

Podemos dizer que o racismo estrutural organiza a forma como o Estado e a sociedade, em suas diferentes esferas, organizam as relações de poder, com base no reforço e manutenção das múltiplas discriminações pela preservação dos privilégios da “branquitude” patriarcal.

Como afirmou a filósofa e escritora Djamila Ribeiro: “a gente já nasce numa sociedade que tem uma hierarquia de humanidade em que, se você é negro, vai ser tratado de um jeito, se é branco, vai ser tratado de outro. A sociedade já estabelece essas construções para nós e vamos assimilando isso, internalizando e aceitando como verdade. Ninguém nasce odiando ninguém, a gente aprende a odiar.”

Essa estrutura social que possibilitou a manutenção do racismo ao longo da história, inclusive do Brasil, pode ser contada a partir das próprias leis do país – algumas delas são da época em que os negros eram escravizados, é claro, mas outras vieram depois da abolição.

Um exemplo disso é a própria Lei Áurea, de 1888. Além de o Brasil ser o último país das Américas a aderir à libertação das pessoas escravizadas, a população negra que vivia aqui se viu livre, porém sem opções de emprego ou educação.

Sobre leis antirracismo

Mais recentemente, em janeiro de 2023, foi sancionada a Lei nº 14.532/2023, que equipara a injúria racial (quando a agressão é dirigida a um único indivíduo) ao crime de racismo (que ocorre quando a ofensa é direcionada à coletividade).

Com a mudança, a pena, que era de um a três anos de prisão, sobe para dois a cinco anos e passa a ser inafiançável.

Impactos do racismo estrutural

Para entender o racismo incrustado na estrutura de nossa sociedade, é necessário compreender como isso afeta diretamente os negros.

Durante mais de três séculos de escravidão, pelo menos 4,8 milhões de pessoas africanas foram trazidas para o Brasil. Inicialmente, foram escravizadas para trabalhar nos engenhos de açúcar, principal produto de exportação da época. Com o passar dos anos, o comércio transatlântico de africanos se tornou tão lucrativo que as pessoas trazidas para cá deixaram de ser apenas mão-de-obra e se tornaram a própria mercadoria.

Pessoas foram escravizadas única e exclusivamente por conta de sua raça. Cor da pele, textura do cabelo, local de origem, idioma e outros elementos culturais foram inseridos numa lógica hierárquica na qual tudo o que remetia aos africanos passou a ser desvalorizado pelo sistema. Isso fez com que africanos e afro-brasileiros fossem desumanizados e considerados, inclusive juridicamente, como coisas. A partir dessa premissa racista, essas pessoas foram comercializadas como objetos, abdicadas de direitos e tratadas como seres sem pertencimento social e humanitário.

Desigualdades no mercado de trabalho

O resultado da marginalização dos negros, no decorrer da história, pode ser observado no cenário do mercado de trabalho, que reflete essas desigualdades até hoje. Afinal, pessoas negras continuam sendo a maioria da população desempregada no Brasil. É o que mostra a pesquisa divulgada em novembro de 2022 pelo FGV Ibre – Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas.

Outro estudo, realizado com fontes do IBGE, mostrou que:

  • Dos 9,5 milhões de desempregados registrados no terceiro trimestre de 2022, cerca de 64,9% eram negros e pardos.

Indicadores de violência

Indicadores de violência também revelam a estrutura racista brasileira. Em quase todos os estados brasileiros, uma pessoa negra tem mais chances de ser morta do que uma pessoa não negra.

Segundo o Atlas da Violência, publicado em 2021 pelo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada:

  • A taxa de violência letal contra pessoas pretas e pardas em 2019 foi 162% maior que a mesma taxa contra pessoas não negras.
  • Pessoas negras representaram 77% das vítimas de homicídios no país.

O fator emocional

Outro fator importante é a questão emocional. A discriminação racial e a invisibilidade social afetam a autoestima, o bem-estar e a saúde emocional de homens e mulheres negras. Segundo o Ministério da Saúde:

  • O risco de suicídio foi 45% maior em adolescentes e jovens negros comparados aos brancos em 2022.
  • Estudos indicam uma maior prevalência de transtornos mentais, como a depressão, entre pessoas não brancas.
  • Pessoas negras estão mais sujeitas a sofrer de estresse por causa do racismo.

Organizações Sociais que lutam por igualdade

Existem diversas organizações não governamentais sérias e comprometidas realizando um trabalho incrível pela igualdade racial.

Nós, do Instituto Liebe, estamos nesse envolvimento com o Movimento Okan, que deseja inserir o negro no ambiente psicanalítico. Coordenado por Claudia Barata, Esterlina Cecília do Santos e César Augusto de Campos Lima.